Na primeira etapa do Inquérito Epidemiológico no sistema prisional, foram realizados 1.830 testes rápidos do novo Coronavírus (Covid-19) em internos, servidores penitenciários e profissionais de saúde de todas as unidades prisionais do Espírito Santo. A iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Justiça (Sejus), em conjunto com a Secretaria da Saúde (Sesa), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), buscou identificar a realidade da doença no sistema prisional para avaliação das medidas de prevenção, controle e tratamento adotados.
O estudo indica uma prevalência de 31,6% entre internos do sistema prisional, com a testagem de 844 presos. Desses, 267 tiveram resultados positivos, sendo 81 casos ativos – os demais já estavam curados. Prevalência indica a proporção de casos existentes numa determinada população em um determinado período.
O estudo indica que dentre os 22 mil presos do sistema penitenciário capixaba, cerca de sete mil teriam sido infectados. Na região Norte, 43,7% dos custodiados testados tiveram resultado positivo para a Covid-19; na região Metropolitana essa taxa foi de 28,7%, enquanto na região Sul 19,8% dos presos testados tiveram contato com o vírus.
Além disso, os dados apontam que 95% dos internos infectados são do sexo masculino e que 79,6% dos positivados tem entre 21 a 40 anos.
O levantamento traz um importante dado sobre os cuidados adotados nas unidades e sobre atenção à saúde prestada: 791 internos afirmaram higienizar as mãos com frequência e 199 dos internos positivados apresentaram apenas um ou nenhum sintoma.
Perfil dos profissionais testados positivamente
A pesquisa também abrangeu os servidores penitenciários e profissionais da saúde do sistema. Foram realizados 675 testes em servidores penitenciários, dos quais 149 tiveram resultados positivo para a doença – sendo 48 ativos na data da testagem. A prevalência entre os servidores penitenciários é de 22,1%.
Os profissionais de saúde que atuam nas unidades também realizaram os exames: dos 311 testados, 37 apresentaram resultados positivos para a doença – sendo três ativos no momento da testagem. A prevalência para essa categoria foi de 11,9%.
Realizado entre os dias 31 de agosto e 04 de setembro, o estudo seguiu os mesmos moldes adotados no Inquérito Sorológico realizado nos municípios capixabas. Os testes foram realizados de forma aleatória, a partir de um sorteio realizado por meio de aplicativo específico executado pela Ufes.
Para o secretário de Estado da Justiça, Luiz Carlos Cruz, os resultados levantados permitem uma avaliação positiva das medidas adotadas nas unidades prisionais:
“A suspensão das visitas, o reforço na higienização pessoal, dos espaços em comum das unidades e viaturas, além do uso de máscara pelos nossos profissionais demonstraram eficácia para a prevenção e controle da doença. O estudo também permite identificar que os presos com sintomas gripais tiveram o atendimento médico no sistema. O baixo número de casos ativos no momento da testagem é mais um indicativo de que a doença está controlada. A Sejus agora irá reavaliar protocolos para promover ainda mais saúde e segurança ao sistema prisional capixaba”, pontuou.
A professora e epidemiologista da Ufes, Ethel Maciel, ressalta que o resultado do inquérito irá pautar as ações da Sejus com relação aos protocolos de biossegurança.
“Esse estudo para o sistema prisional é de extrema importância porque ele vai fornecer subsídios aos gestores da Secretaria para, diante dos resultados, tomar melhores decisões em relação aos protocolos de biossegurança e para entender também os impactos das ações implementadas até agora para a diminuição da transmissão, adoecimento e letalidade da doença. Os resultados da pesquisa irão guiar de forma científica essas ações e torná-las mais efetivas”, disse Ethel Maciel.
Para realização da segunda fase do Inquérito Epidemiológico, a Sejus aguarda o recebimento dos testes pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), com a previsão de testagem de cerca de duas mil pessoas.
No site da Sejus, há um arquivo com mais detalhes sobre os dados levantados sobre a Covid-19 no sistema penitenciário capixaba. Clique aqui para acessar.
Metodologia
O Instituto Jones dos Santos Neves atuou no desenvolvimento do instrumento de coleta, com um questionário sobre o perfil pessoal dos entrevistados, além de informações de saúde, como sintomas da Covid-19, hábitos de higiene, presença de comorbidades crônicas, entre outras.
“O questionário funciona em um aplicativo instalado em aparelhos celulares utilizados de forma completamente offline, podendo ser aplicado dentro das unidades prisionais. No final de cada dia de aplicação, os aparelhos eram conectados à internet e a equipe técnica recebia imediatamente o pacote de dados coletados naquele dia”, explicou o coordenador de Geoespacialização do IJSN, Pablo Jabor.
Para otimizar as atividades em campo, também foi desenvolvido um painel de acompanhamento do andamento da pesquisa para cada uma das unidades prisionais. Deste modo, na medida em que a pesquisa era realizada, era possível monitorar quais unidades estavam próximas ou já tinham atingido as metas para cada um dos perfis que o inquérito abrangeu (internos, servidores penitenciários e profissionais da saúde do sistema).
“Para cada um dos perfis analisados, foi determinada uma quantidade de testes que deveriam ser realizados em cada unidade prisional. Deste modo foi possível garantir a segurança estatística do cálculo, cujo resultado reflete a prevalência da doença no sistema prisional capixaba como um todo”, ponderou Jabor.
Medidas de controle
Durante a realização do Inquérito Epidemiológico, medidas de controle foram tomadas para os casos ativos da doença. Internos foram encaminhados às áreas específicas de isolamento e receberam atendimento necessário pelas equipes de saúde. Já os servidores foram afastados e orientados a buscar o serviço de saúde mais próximo.
Desde o início da pandemia, diversas ações foram adotadas pela Sejus para prevenção e contenção da doença nas unidades prisionais, como a adoção de celas de isolamento para casos suspeitos e casos confirmados, mudanças nas rotinas de visitas, assistência religiosa e atividades laborais.
A Sejus oferece atendimento de saúde em todas as unidades, garantindo assistência médica à população carcerária.
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