A busca por um Espírito Santo mais equilibrado, com oportunidades espalhadas por todas as regiões, tem sido uma das prioridades do Governo do Estado. Esse desafio, que perpassa décadas de concentração de investimentos na Região Metropolitana, encontrou um novo caminho com a criação do projeto Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS-ES), uma iniciativa que representa uma inflexão importante na forma de planejar o futuro do estado.
Coordenado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em parceria com instituições como a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), o DRS nasceu com a missão de olhar para cada microrregião capixaba com atenção às suas singularidades, vocações e desafios. Trata-se de uma mudança de paradigma: sair de um modelo centralizador para um modelo que respeita as dinâmicas locais, estimula a cooperação entre municípios e promove justiça territorial.
Entre 2019 e 2021, o DRS percorreu o Espírito Santo construindo diagnósticos profundos, ouvindo lideranças e sistematizando informações sobre território, meio ambiente, economia, sociedade e gestão pública. A partir daí, nasceram os planos de ação microrregionais, com metas, projetos e responsáveis definidos. Foi também nesse momento que surgiu o Índice de Desenvolvimento Regional Sustentável (IDRS), uma ferramenta inovadora que permite medir desigualdades e orientar decisões públicas com foco na qualidade de vida da população.
Para garantir que o planejamento fosse, de fato, regionalizado e integrador, foi fundamental criar espaços permanentes de escuta e pactuação com a sociedade. Assim, foram instituídos nove Conselhos de Desenvolvimento Regional Sustentável (CDRS), colegiados consultivos e de participação social vinculados à Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Eles reúnem representantes dos poderes públicos municipais e estaduais, do setor empresarial, de entidades de trabalhadores, da sociedade civil organizada e da academia. A Região Metropolitana, por sua vez, já conta com o Conselho Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória (COMDEVIT). Essas instâncias fortalecem a legitimidade das decisões e estimulam o engajamento da população nos rumos de seu próprio território.
O trabalho avançou. Em 2023 teve início a Fase 2 do projeto — o DRS 2.0 — com o objetivo de aprofundar os estudos iniciados e de fornecer novos instrumentos para a gestão territorial. Agora, o foco se distribui por três grandes eixos: ordenamento territorial, qualificação e desenvolvimento econômico, e sustentabilidade ambiental. O projeto prevê desde diretrizes para os planos diretores dos municípios até análises sofisticadas com matrizes de insumo-produto por microrregião, além da atualização dos dados sobre as unidades de conservação.
É importante destacar que o DRS não é apenas um plano de governo, mas uma política de Estado baseada em evidências, construída com o apoio da ciência. O papel do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), como órgão de planejamento e inteligência do Estado, tem sido crucial para garantir a continuidade do projeto e a sua capacidade de gerar dados, análises e produtos técnicos que possam orientar investimentos públicos e privados, mesmo em contextos de transição administrativa.
Ao colocar a ciência e a participação social como base do planejamento, o Espírito Santo reforça sua posição como referência nacional em políticas públicas territorializadas e inclusivas. O DRS 2.0 é mais do que uma atualização técnica: é a reafirmação de um compromisso com um desenvolvimento que seja, ao mesmo tempo, economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável.
Mais do que um projeto, o DRS é um convite para repensar o território capixaba. É um chamado à cooperação regional e à valorização da diversidade. E, principalmente, é um lembrete de que o desenvolvimento só é sustentável quando todos os territórios têm voz, vez e oportunidades reais de prosperar.
Pablo Medeiros Jabor é doutor em Geografia, Diretor Setorial de Estudos e Pesquisas do IJSN, servidor da carreira de EPPGG e Professor da Academia de Polícia Militar do Estado do Espírito Santo.