10/05/2018 17h08 - Atualizado em 27/03/2023 11h37

Estudo inédito revela perfil da população trans na Grande Vitória

O debate sobre transexualidade envolve questões e perspectivas teóricas diversas. Ao se revelarem diferentes dos padrões estabelecidos socialmente, as pessoas trans incomodam o status quo e, muitas vezes, passam a sofrer um processo de invisibilização.


Para conhecer melhor esse universo, o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES) foi a campo realizar pesquisa sobre homens transexuais, mulheres transexuais e travestis da Região Metropolitana da Grande Vitória. Trata-se de uma pesquisa inédita no Estado, que permitiu identificar o perfil da população trans, além de conhecer suas vulnerabilidades, dificuldades e potencialidades. 


Bola de Neve


As entrevistas ocorreram nos meses de agosto e setembro de 2017. Foram realizadas 147 entrevistas com homens transexuais, mulheres transexuais e travestis, na Região Metropolitana da Grande Vitória. Buscou-se captar aspectos educacionais, família, moradia, trabalho, saúde, violências e segurança, entre outras dimensões. Além disso, o parâmetro utilizado para selecionar os participantes foi sempre a auto identificação.


Na preparação do estudo, foi constituído um Grupo de Discussão (GD Pop Trans), que contou com a participação de pessoas trans militantes de movimentos sociais, técnicos dos serviços estaduais e municipais da RMGV que atendem a este segmento, pesquisadores de instituições de ensino superior, técnicos da SEDH, além de pesquisadores do IJSN.


Para a realização da pesquisa, foi utilizada uma amostra não probabilística denominada Bola de Neve, que utiliza cadeias de referência, muito útil para pesquisar grupos difíceis de serem acessados ou estudados, bem como quando não há precisão sobre sua quantidade. Nas cadeias de referência, cada pessoa trans identificada podia indicar outra pessoa, formando uma espécie de rede, aumentando assim o grau de confiabilidade do trabalho. 


 


Preconceito


Da população entrevistada, 35% se identificou como homem transexual, 37% como mulher transexual e 28% travesti. Cerca de 70% se declarou heterossexual, 66% são negros e negras e 68% são jovens, na faixa etária de 15 a 29 anos. 


A pesquisa revelou ainda que o preconceito muitas vezes está dentro do lar: mais de 60% disseram ter sofrido discriminação em sua família por ser transexual ou travesti. Dos entrevistados, 43% relataram ter sofrido algum tipo de violência no ambiente familiar, seja psicológica, verbal e também física. Cerca de 10% revelaram ter sofrido abuso sexual por membros da família. Grande parte dos pesquisados atribui o preconceito à falta de informação, já outra parte, também significativa, aos valores morais e religiosos dos agressores.


Outro dado preocupante é que dois em cada três entrevistados disseram ter sofrido preconceito ou agressão no ambiente escolar, a maioria com xingamentos e piadas por parte de colegas e até mesmo por profissionais do ensino.


Quando o assunto aborda o ambiente de trabalho, 37% dos entrevistados que estão empregados disseram ter sofrido algum tipo de assédio ou perseguição por sua condição e quase a metade considera alto ou muito alto o risco de sofrer alguma agressão nesse ambiente. Quando o cenário muda para as ruas, mais de 60% consideram alto ou muito alto o risco de serem mortos por motivação transfóbica.


“Cada sujeito entrevistado nessa pesquisa apresenta singularidades e histórias que, devido ao caráter e a proposta do estudo, torna-se inviável de serem apresentadas em sua totalidade nesse relatório. Entretanto, o estudo consegue potencializar a voz de uma população que quase sempre tem sido colocada a margem”, afirma a coordenadora da pesquisa, Sandra Mara Pereira.


A pessoa trans reivindica um gênero diferente ao que lhe impõem e o quer viver para além das diferenças sexuais. “Conhecer este universo permite pensar a formulação de políticas públicas qualificadas que atendam as reais necessidades deste segmento”, explica a diretora presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Gabriela Lacerda.


Informações à imprensa:

Instituto Jones dos Santos Neves - IJSN
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