Após crise, Espírito Santo retoma crescimento
Chico Santos
O Espírito Santo, Estado que vinha crescendo economicamente acima da média nacional ao longo desta década e que sofreu um forte abalo, especialmente na área industrial, a partir da crise deflagrada em setembro do ano passado, começa a apresentar sinais de recuperação.
Investimentos que haviam sido congelados ou desacelerados, voltam a entrar em pauta, incluindo a construção de uma siderúrgica pela Vale no sul do Estado, um terminal portuário de minérios pela Ferrous Mineração e um estaleiro pelo grupo Jurong, de Cingapura. Mas o Estado continua ressentindo-se da queda vertiginosa da produção de gás natural e deve fechar o ano com crescimento negativo.
As estatísticas recentes são animadoras. Em agosto a indústria capixaba cresceu 6% sobre o mês anterior, o segundo melhor desempenho regional do país (Pernambuco cresceu 7,4%), de acordo com os dados do IBGE. Em julho, o crescimento sobre junho já havia sido de 9,6%, e quando comparado com dezembro do ano passado, o crescimento com ajuste sazonal alcança 21,8%, o melhor desempenho do país.
O indicador do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, que começou a ser calculado no fim do ano passado, uma parceria do Instituto Jonas dos Santos Neves (IJSN) com o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), mostrou crescimento de 3% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro, enquanto o PIB brasileiro cresceu apenas 1,9% no período.
O crescimento na ponta está muito longe de aproximar-se dos números anteriores à crise, até porque a indústria e a economia capixaba foram levadas de roldão pela crise. De novembro do ano passado até julho deste ano, a menor queda da produção industrial do Estado em relação ao mesmo mês do ano anterior foi justamente a de julho, 20% cravados.
O indicador do PIB trimestral do IJSN, que usa a mesma metodologia do IBGE com menos informações, registrou queda de 9% na economia estadual, ante redução de 1,2% do PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano sobre o segundo de 2008. De janeiro a junho, segundo o instituto capixaba, o PIB estadual encolheu 9,6% e deve fechar o ano com 3,6% negativos, enquanto a economia brasileira deve ter ligeiro crescimento (0,10%) segundo a pesquisa Focus, do Banco Central (BC).
A presidente do IJSN, Ana Paula Vescovi, disse que o tombo maior da economia do Espírito Santo deveu-se ao seu grau de abertura, leia-se exposição ao comércio exterior, que alcança 60%, do PIB, muito acima do verificado na economia brasileira, que fica entre 20% e 25%.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Lucas Izoton, diz ter um método infalível de avaliar a temperatura da economia estadual: da varanda do seu apartamento na Praia da Costa, município de Vila Velha (Grande Vitória), conta o número de navios aguardando na barra para atracar no porto da capital. Em 2007, a média era de 13 navios por dia. Em 2008, Izoton chegou a contar 40 navios diários esperando, número que desabou para 7 no primeiro semestre deste ano. Neste semestre, a média já subiu para 26 navios.
Na avaliação de Izoton, o ano de 2008 (até setembro) foi "um ponto fora da curva" e talvez sejam necessários dois ou três anos para que o mesmo ritmo de atividade econômica seja alcançado no Estado. "Mas 2009 já será parecido com 2006 e 2007", prevê.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Guilherme Dias, disse ter várias indicações de que, reagindo a uma progressiva retomada global do comércio em setores-chave, como o de mineração e siderurgia, há uma gradativa retomada dos grandes projetos que estavam em gestação antes da crise.
O principal deles é a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), nova versão da Companhia Siderúrgica de Vitória (CSV). A CSV, associação da Vale com a chinesa Baosteel, foi abatida pela crise. A CSU, que deve produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, é, por enquanto, projeto exclusivo da Vale. No dia 13 deste mês, a empresa iniciou as consultas públicas do termo de entendimento, primeira etapa do licenciamento ambiental do projeto. A Vale já está comprando terras na área de construção da usina, em Anchieta, sul do Estado.
De acordo com Dias, outro projeto que está em fase de retomada é o da construção de um terminal portuário no município de Presidente Kennedy, também no sul do Estado, pela Ferrous Brasil, uma empresa controlada por fundos de investimentos estrangeiros, que possui várias minas de ferro em Minas Gerais.
No ano passado, ela anunciou investimentos de R$ 6 bilhões, incluindo US$ 2,7 bilhões no porto, para exportar 50 milhões de toneladas anuais de minério a partir de 2014. Segundo Dias, o processo de licenciamento ambiental da obra, que estava paralisado, está sendo retomado. Na área de portos, há outros projetos em gestação, inclusive o da construção de um terminal de contêineres de águas profundas (18 metros de calado), capaz de receber navios de até 6.500 contêineres básicos (TEUs).
Também segundo Dias, o grupo Jurong, de Cingapura, está acelerando o processo de licenciamento ambiental do estaleiro que pretende construir em Aracruz, norte do Estado, com início de obras previsto para 2010. O alvo é a construção de plataformas marítimas de petróleo.
A indústria de petróleo e gás, um dos maiores polos de expansão industrial do Estado, potencializado com a exploração do pré-sal, foi, ironicamente, uma das responsáveis pelo tombo sofrido pela economia do Estado durante a crise. A produção de gás natural, que havia saltado de 1,5 milhão de metros cúbicos por dia (m3/dia) para quase 9 milhões em menos de dois anos, caiu a 2,5 milhões de m3/dia.
Além da crise, também contribuiu para a queda da produção de gás a redução da demanda para geração elétrica, decorrente do momento favorável para a geração hidrelétrica (chuvas). Dias lamenta que o ajuste da produção doméstica decorrente da queda do consumo tenha sido feito, principalmente, no Espírito Santo, onde a maior parte da produção é de gás sem associação com petróleo, o que facilita o fechamento temporário dos poços sem perda da produção de óleo. "Até entendo, mas é um fato."
Outro segmento importante da indústria capixaba que sofreu forte tranco com a crise foi o de rochas ornamentais (mármore e granito). A forte concentração das vendas para o mercado americano fez com que, com a derrocada no setor imobiliário naquele país, as exportações do Estado baixassem, segundo números da Findes, de US$ 700 milhões em 2006 para aproximadamente US$ 600 milhões em 2007 e US$ 500 milhões em 2008, mesmo número esperado para 2009. "Houve desemprego, porque não conseguimos abrir novos mercados para superar a crise dos EUA", disse Izoton.