Território foi o eixo temático debatido na sexta e última edição do seminário de integração do Projeto Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), nesta quinta-feira (29). Infraestrutura, mobilidade, logística, saneamento, habitação, ruralidade e tecnologia da informação foram os temas abordados nas apresentações, todas focadas na busca pela sustentabilidade.
Realizado de forma virtual pelo canal do IJSN no YouTube e mediado pela diretora de Estudos e Pesquisas do instituto, Latussa Laranja, o debate contou com participações da secretária de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional, Cristina Engel; da professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Eneida Mendonça; e do professor Fabiano Lemes, do Politécnico de Milão.
O Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) consta do plano de governo e da carteira de projetos do Planejamento Estratégico 2019-2022. Visa a promover o desenvolvimento equilibrado do Estado, pactuando ações e projetos para a prosperidade de cada vila, cidade e microrregião do Estado, de acordo com as vocações e potencialidades locais. Envolve a participação efetiva do Governo, dos municípios, do Legislativo, da sociedade civil, da academia e do setor produtivo.
Diretor-presidente do IJSN, Daniel Cerqueira destacou a importância do DRS por suas características democrática e inovadora. Cerqueira ressaltou também as grandes transformações registradas no Brasil, a partir dos anos 1940, com a transição campo-cidade, até os anos 2000. “Essa transição, com o envelhecimento da população a passos largos, vai trazer enormes implicações para os territórios, para as políticas públicas de todos os setores”, disse.
Modelos de cidades
Ao falar sobre o tema “Tecnologia, Sustentabilidade ou Inteligência Urbana?”, a secretária Cristina Engel abordou aspectos relacionados a modelos de cidade, destacando, entre eles as cidades sustentáveis, inteligentes e verdes, levando a uma reflexão sobre qual desses modelos cada cidadão espera. Também apontou vantagens e perigos da inserção da tecnologia de uma forma tão rápida como vem acontecendo.
A secretária mostrou a forma como os Planos de Desenvolvimento Regional Sustentável estão sendo elaborados pelo Governo do Estado. “Está sendo feito de uma forma muito inteligente, possibilitando que o diagnóstico seja estabelecido através de vários olhares. Tanto do olhar de cada membro do Conselho que representa uma parcela da sociedade, como também a visão dos profissionais e estudiosos da área, com as pesquisas desenvolvidas pela academia e pelo Instituto Jones. Com esses olhares e com a participação intensa de representantes do Governo do Estado é possível estabelecer um plano que não se limita a uma gestão e que certamente terá consistência para que se prolongue e se torne uma diretriz para as tomadas de decisões futuras”, afirmou Cristina Engel.
Desafio
A professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Eneida Maria Souza Mendonça, falou sobre “Território como desafio e alternativa”, ressaltando aspectos ligados às relações sociais, culturais e de poder. “O território é a base e extensão da natureza, da circulação, da moradia, da economia, da cultura. Portanto, da vida”, argumentou, estabelecendo sua relação à terra, gente/seres vivos e desejo, “indo além das delimitações físicas oficiais”.
Ela lembrou que as políticas regionais do Brasil existem desde o Império, quando a proposta era de combate à seca e à redução de desigualdades. Para a professora, entre os desafios atuais para a definição de políticas públicas com foco nos territórios estão o estabelecimento de vínculo para que ocorra participação social, e a capacidade de planejamento, diante da ausência de uma esfera de poder que tenha relação com o território.
“Policentrismo, urbanidades, ruralidades e natureza” foi tema da palestra do professor do Politécnico de Milão, Fabiano Lemes, que fez uma reflexão sobre conceitos do planejamento urbano e regional, com foco na relação urbanização e natureza, considerando os desafios atuais, a partir de seus estudos e pesquisas.
Lemes lembrou aspectos ligados ao processo de transformação das cidades, a partir da década de 1950, quando o crescimento das atividades socioeconômicas, aliado a benefícios nas áreas de transporte, telecomunicações, uso de energia, “levou a uma grande pressão sobre o planeta, que hoje sabemos ser insustentável, com degradação da biosfera terrestre e perdas nas florestas tropicais”.
Ele diz que para se pensar o futuro das cidades sustentáveis é preciso identificar os desafios que já estão sendo e que poderão ser enfrentados. “Devemos pensar na redução das desigualdades, na vida sobre a terra e no mar”, pontuou, lembrando que ações ligadas a questões locais e globais – a exemplo da questão climática – precisam estar relacionadas.
Segundo o professor, o planeta será cada vez mais populoso e cada vez mais urbano. “Mais de 70% da população mundial viverá em cidades, onde já moram aproximadamente 85% da população brasileira. Sabemos também que 75% das emissões de gás carbônico ocorrem nas cidades. E nesse contexto, há um paradoxo no desenvolvimento sustentável, que é a necessidade de acomodarmos mais pessoas nas cidades. Como faremos isso? De que forma essa urbanização será feita e qual será o impacto na natureza? E como faremos para garantir mais espaço para a natureza nas nossas vidas, com mais áreas verdes ao redor de nós?”, questionou Lemes.
Para o professor, boa parte dos desafios urbanos têm soluções encontradas na natureza. Plantio de florestas, por exemplo, é apontado como forma de se limitar o aquecimento global. “Existe muita inteligência na natureza que precisamos aproveitar para aplicar, juntamente com nossas invenções tecnológicas, em todas as escalas”, explicou.
É no planejamento sistêmico, salientou o professor, que a natureza deve ser integrada. E fez também uma provocação à reflexão, em relação ao Espírito Santo, perguntando: “O que o Estado quer ser? Um Estado carbono neutro, com melhor equilíbrio entre a vida urbana e a natureza?”.
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