Por Mariana Rodrigues, Amanda Koffer, Pablo Lira e Katia de Paula
O conhecimento científico desempenha um papel crucial na formulação e implementação de políticas públicas eficazes. Ele fornece uma base sólida de evidências e análises que permitem aos formuladores de políticas tomarem decisões informadas, que visam melhorar a qualidade de vida da população e enfrentar os desafios sociais e econômicos.
Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, a capacidade de entender e aplicar conhecimentos científicos é essencial para desenvolver soluções sustentáveis e inovadoras. Portanto, a democratização desse conhecimento é fundamental para garantir que todos os setores da sociedade possam participar ativamente na construção de políticas públicas mais justas e inclusivas.
Seguindo essa perspectiva, a rede Observatório das Metrópoles desenvolveu o projeto de artigos de opinião visando à publicização e abertura à discussão de temas pertinentes ao cotidiano das metrópoles. Ao propor a publicação das pesquisas em mídia local, a rede de pesquisadores torna-se mais próxima dos cidadãos que vivenciam diretamente os temas abordados nos textos.
A abertura para o diálogo das pesquisas é um exercício que nos coloca em posição de incidência, incorporando ciência e sociedade em torno de um objetivo comum: refletir e pretender ações para a melhoria da realidade local. Nesse sentido, buscamos contribuir com a popularização do conhecimento científico aplicado para a melhoria da qualidade de vida da sociedade.
Em circunstâncias nas quais os pesquisadores tendem a compartilhar suas produções com os pares para a validação de suas pesquisas, vale questionar: quem tem acesso e consome a produção científica e até onde ela pode incidir no meio social? Como afirmam os autores Germano e Kulesza (2006), a tentativa de instigar a transdisciplinaridade entre pesquisas não é suficiente para tornar acessível o conhecimento.
Para que se torne acessível, é necessária a ampliação do diálogo, pretendendo alcançar a sociedade como um todo, principalmente os atores sociais mais atingidos pela desigualdade e exclusão.
Divulgar o conhecimento superespecializado não tem sido suficiente para conectar o saber cientifico com as realidades sociais existentes. A mera divulgação deixa em aberto a lacuna de tornar os dados e análises acessíveis ao atores não-técnicos.
A superespecialização de acadêmicos torna cada vez mais vertical a relação entre quem está dentro ou fora do ambiente científico-tecnológico, reiterando uma hierarquia falaciosa entre “quem detém o conhecimento” (o divulgador das informações) e “quem não detém” (o ouvinte ou receptor das informações).
Tornar palpáveis os resultados brutos das pesquisas por meio de uma comunicação horizontalizada, é uma das estratégias de fortalecimento do direito à cidade para aqueles que a vivenciam no cotidiano, ampliando as ações de divulgação científica para que um maior fluxo de informações seja acessado por todos os setores da sociedade.
A democratização do conhecimento científico, construída de forma participativa e descentralizada do ambiente superespecializado, contribui para a formação e manutenção do pensamento crítico da sociedade, ampliando a gama de possibilidades para a resolução de demandas por meio do reconhecimento de problemáticas por vezes ocultas às dinâmicas das cidades.
A conceituação do direito à cidade pressupõe a participação consciente dos cidadãos na produção e transformação da cidade, para além do direito de usufruir dessa. Neste processo, o acesso democrático ao conhecimento científico se mostra fundamental, pois possibilita que a população tenha condições de decisão e ação política subsidiadas pelo entendimento da realidade em que se inserem.
Nesse sentido, faz-se necessário o amplo diálogo entre os atores sociais, compartilhando experiências que se somam à construção de resultados direcionados à manutenção de políticas públicas, por exemplo. Assim, compreende-se a demanda de organizações públicas de ciência e tecnologia pelo desenvolvimento de trabalhos concisos para difusão científica, não somente compartilhados com os pares, mas também incorporados à comunicação popular.
Ao garantir que todos tenham acesso ao conhecimento científico, estamos empoderando os cidadãos para que participem ativamente da produção e transformação do espaço urbano. Isso não apenas promove uma sociedade mais informada e engajada, mas também assegura que as políticas públicas reflitam verdadeiramente as necessidades e aspirações de toda a população.
Mariana Paim Rodrigues é doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, coordenadora dos Estudos Territoriais do IJSN e vice-coordenadora e pesquisadora do Núcleo Vitória do Observatório das Metrópoles.
Amanda Lovatti Coelho Koffer é mestra em Arquitetura e Urbanismo e pesquisadora bolsista do INCT Observatório das Metrópoles/ Núcleo Vitória.
Pablo Silva Lira é doutor em Geografia, mestre em Arquitetura e Urbanismo, Diretor-Geral do IJSN e coordenador regional e pesquisador do Núcleo Vitória do Observatório das Metrópoles.
Katia Cesconeto de Paula é mestra em Administração, Diretora de Gestão Administrativa do IJSN e pesquisadora do Núcleo Vitória do Observatório das Metrópoles.