Artigo - Ganhos econômicos e sociais da erradicação da extrema pobreza

Por Edna Morais Tresinari e Marlon Neves Bertolani

Programas de transferência de renda custam pouco e os seus benefícios sociais e econômicos abrangem toda a sociedade. Um estudo desenvolvido pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), com base na Matriz de Insumo-Produto, avaliou o impacto da erradicação da extrema da pobreza na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV).

Os pesquisadores realizaram uma simulação de política de transferência de renda no volume de recursos suficientes para erradicar a extrema pobreza no período de um ano. Com base nos dados do Cadastro Único, seriam necessários R$ 562,27 milhões, o que corresponde a aproximadamente 0,7% do PIB da região.

A análise apontou que, para cada real transferido aos mais pobres, representados por aqueles com consumo até meio salário mínimo, haveria uma elevação de R$ 0,77 e uma variação de 0,53% no PIB da RMGV. Na simulação, constatou-se também um incremento na renda do trabalho de R$ 0,35 a cada real de acréscimo no consumo e uma elevação na geração de postos de trabalho de 0,38%.

Considerando os encadeamentos da estrutura produtiva e a cesta de mercadorias dos mais pobres, o impacto sobre a produção da microrregião variaria entre +2,80% e 0%. Os setores mais beneficiados seriam alimentos e bebidas. Com um aumento de R$ 126,97 milhões no consumo das famílias nesses segmentos, seria gerado um estímulo de produção nesse setor da ordem de R$ 156,79 milhões. Isso significa um incremento de +2,80% em relação a produção, antes do acréscimo de consumo.

Em seguida, aparecem os setores de pecuária (+2,34%); serviços de informação (+1,81%); transportes (+1,24%); e fabricação de produtos da madeira, móveis e das indústrias diversas (+1,07%). Para as atividades industriais, os estímulos seriam menores dado que esses produtos não fazem parte da cesta de mercadorias dessas famílias.

A análise ressalta a importância de políticas públicas setoriais direcionadas às atividades prioritárias para as populações de baixa renda, como alimentação, geração e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, serviços de informação, transportes e habitação.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua-anual de 2022, 25,1% das pessoas vivem em situação de pobreza e 4,6% na extrema pobreza, na RMGV. Isso equivale a aproximadamente 515,7 mil pessoas pobres, com rendimentos inferiores a R$ 647,84 mensais, e 94,5 mil pessoas na condição de extrema pobreza, com rendimentos inferiores a R$ 203,73 mensais.

Trabalhos como esse, acerca da realidade dos pobres, possibilita a criação, elaboração, mudança e difusão social de um novo conhecimento capaz de fornecer bases sólidas para o debate sobre políticas públicas voltadas a essa parcela da população.

Em um momento de ampla discussão sobre a necessidade de se adotar políticas com base em evidências, o estudo desenvolvido pelo IJSN contribui ao demonstrar que é possível erradicar a extrema pobreza, e com isso, beneficiar toda a sociedade.


Edna Morais Tresinari é mestre em Economia e pesquisadora do Núcleo Vitória - Observatório das Metrópoles/IJSN

Marlon Neves Bertolani ė mestre em Política Social e pesquisador do Núcleo Vitória - Observatório das Metrópoles/IJSN

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